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Os neurotransmissores estão normalmente armazenados em vesículas presentes nas células neuronais. Após receberem um estímulo, as vesículas de armazenamento fundem com a membrana celular, libertando os neurotransmissores (NA, DA e 5-HT), por exocitose, para a fenda sináptica para que possam desempenhar o seu efeito fisiológico. Depois de atuarem, os neurotransmissores são recaptados para o interior da célula e novamente armazenados em vesículas (McGraw and McGraw 2012).

As catinonas sintéticas têm a capacidade de interagir com os transportadores das catecolaminas (DAT, NET e SERT), resultando no aumento da concentração sináptica das monoaminas. No entanto, a afinidade destes compostos para cada transportador varia consideravelmente (Valente et al. 2014).

MECANISMO DE AÇÃO DAS CATINONAS SINTÉTICAS

 

As catinonas sintéticas têm a capacidade de interagir com os transportadores de monoaminas presentes na membrana plasmática das células nervosas, nomeadamente os transportadores da dopamina (DAT), transportadores da noradrenalina (NET) e transportadores da serotonina (SERT), resultando, assim, na acumulação das catecolaminas ao nível da fenda sináptica (Valente et al. 2014).

 

 

Ao nível destes transportadores, estes compostos podem atuar de duas formas:

  1. Como ligando dos transportadores VMAT2 – as catinonas são “recaptadas” para o interior das células, promovendo a desestabilização das vesículas que armazenam os neurotransmissores (catecolaminas), estimulando a sua libertação prematura. Este mecanismo de ação é semelhante ao desencadeado pelas anfetaminas (McGraw and McGraw 2012).

  2. Como inibidores competitivos dos transportadores das monoaminas - As catinonas competem com as catecolaminas levando à diminuição da sua recaptação e consequentemente, ao aumento da sua concentração na fenda sináptica (figura 1). Este mecanismo de ação é semelhante ao desencadeado pela cocaína (Valente et al. 2014).

Figura 1: Mecanismo de ação das catinonas sintéticas.

 

Para além disso, estes compostos são capazes de inibir parcialmente a atividade da MAO, que é uma enzima reguladora, responsável pela metabolização de monoaminas que possam estar em excesso (McGraw and McGraw 2012).

A presença do grupo metilo na posição α da cadeia feniletilamina das catinonas impede a sua inativação pela MAO (figura 2). Dado que estes compostos demonstraram maior seletividade para a MAO-B quando comparados com as anfetaminas, a inibição desta enzima leva à diminuição da degradação da dopamina e consequentemente, à sua acumulação na fenda sináptica (Valente et al. 2014).

Figura 2: Importância do grupo metilo para a resitência das catinonas à MAO.

 

Estes compostos, apesar de atuarem essencialmente nos transportadores já abordados, demonstraram apresentar diferentes afinidades para cada um deles, levando a acreditar que, diferentes compostos pertencentes a esta família, poderão apresentar diferenças nos efeitos que desencadeiam (Valente et al. 2014).

 

Mefedrona, Metilona, Etilona, Butilona e Nafirona

 

Estas catinonas atuam como inibidores não seletivos de todos os transportadores de catecolaminas (DAT, SERT e NET). No entanto, a nafirona também é capaz de atuar como estimuladora da libertação de serotonina (Valente et al. 2014).

 

MDPV e Pirovalerona

 

Em ensaios executados com sinaptossomas de cérebro de ratazana, o MDPV demonstrou atuar como um inibidor seletivo dos transportadores das monoaminas. Contudo, este composto revelou ser 50 vezes e 10 vezes mais potente do que a cocaína para os transportadores de dopamina (DAT) e noradrenalina (NET), respetivamente. Por outro lado, a sua potência é 10 vezes menor, comparando com a cocaína, para os transportadores da serotonina (SERT) (Valente et al. 2014).  

Relativamente à pirovalerona, foi proposto um mecanismo de ação semelhante ao proposto para o MDVP, dada a similaridade das suas estruturas químicas (Valente et al. 2014). 

 

 

 

Flefedrona

 

A flefedrona atua principalmente como inibidor da recaptação de dopamina e noradrenalina. Contudo, tem ainda a capacidade de promover a libertação de dopamina de modo semelhante ao mecanismo de ação praticado pelas anfetaminas.

Considerando o mecanismo de ação das catinonas sintéticas, os efeitos simpaticomiméticos, psicostimulantes assim como sintomas de paranoia e alucinações podem ser explicados pela sua afinidade para os transportadores de noradrenalina, dopamina e serotonina, respetivamente (Valente et al. 2014).

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

McGraw M, McGraw L (2012) Bath salts: not as harmless as they sound. Journal of emergency nursing: JEN : official publication of the Emergency Department Nurses Association 38(6):582-8 doi:10.1016/j.jen.2012.07.025

 

Valente MJ, Guedes de Pinho P, de Lourdes Bastos M, Carvalho F, Carvalho M (2014) Khat and synthetic cathinones: a review. Archives of toxicology 88(1):15-45 doi:10.1007/s00204-013-1163-9

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